Título: O ódio que
você semeia
Autor (a): Angie Thomas
Editora: Galera Record
Páginas: 378
Gênero: Ficção Juvenil
♥ ♥ ♥ ♥ ♥ (★)
Sinopse: Starr aprendeu com os pais, ainda
muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.
Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te
perguntarem algo. Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados
por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas
regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o
amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto,
indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas
realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas
brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e
negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa
descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu
ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como
seu início. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa. Angie Thomas, numa
narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de
racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode
ignorar.
Alguns
livros vão além de meras páginas, nos tocam e serão parte de nos para sempre. Obras
atemporais trazem temas marcantes e que merecem ser discutidos sempre. Pesquisas
apontam que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil.
Em
Agosto de 2014 um jovem negro, Michael
Brown foi morto, aos 18 por um policial branco, Darren Wilson em Ferguson (Missouri). Sem armas ou antecedentes
criminais, Michael recebeu seis tiros. E mesmo assim o júri decidiu não
processar o policial Darren Wilson "por falta de provas".
Em
Julho do mesmo ano Eric Garner foi
asfixiado por um policial branco, o assassinato aconteceu em Nova Iorque. Eric
era negro. O policial branco também não foi indiciado pelo júri.
O ódio que você
semeia foi
inspirado na história desses dois jovens, e deu voz ao movimento global Black
Lives Matter (Vidas negras importam).
Assim
como aconteceu com Brown e Garner, Khalil, melhor amigo de Starr, foi morto a
tiros a queima roupa por um policial branco. Starr com apenas 16 presenciou
tudo. Khalil não estava fazendo nada de errado, não portava armas, ou drogas
era apenas um garoto negro de 16 anos. A partir dessa experiência assustadora
nossa protagonista começa a pensar sobre o que é justiça, e se ela realmente
existe e, o mais importante, se é válida.
Na trama somos
inseridos no dia-a-dia de Starr, uma adolescente negra que estuda em um colégio
de crianças branco, filha de um ex-presidiário.
Starr é uma garota negra que se divide
entre dois mundos diferentes. Durante o período da manhã, ela frequenta uma
escola de brancos, em um bairro nobre da cidade. Lá ela sente a necessidade de
controlar o que fala, sente e até a forma de se vestir. Ela faz de tudo para
não chamar atenção pela cor da sua pele, e não ficar conhecida como "garota do gueto".
Sua
outra realidade é morar em um bairro da periferia, onde todo mundo se conhece,
mas são dominados pela violência, rivalidade entre gangues e o trafico de
drogas.
Em
todos os capítulos conseguimos mergulhar cada vez mais, nessa realidade tão próxima
e ao mesmo tempo tão distante de nos.
Acompanhamos
a ida de Starr a uma festa em seu bairro, e na volta pega uma carona com seu
melhor amigo Khalil. O carro onde estão é parado pela polícia, um gesto que
iniciaria um dos maiores problemas na vida da jovem.
Nessa
abordagem Khalil é assassinado com três disparos, e Starr também fica na mira
do revolver do policial que matou seu amigo.
A
partir daí acompanhamos o luto, pontuado por depoimentos à polícia, noticiários
mentirosos, fatos que muitas das vezes tentaram culpar Khalil por sua própria
morte. Taxando-o de bandido ou traficante, desconsiderando todo contexto da ocorrência
do crime.
Starr
terá muitos problemas a enfrentar, e junto irá carregar a dor de ver o amigo
morrer em seus braços. Apesar da história se passar nos Estados Unidos, vemos a semelhança que o racismo ainda existe em
nosso país. Talvez de uma forma mais amena, porem ainda existente.
Às vezes, você pode fazer tudo
certo, e mesmo assim, as coisas dão errado. O importante é nunca parar de fazer
o certo.
Angie
Thomas coloca com excelência, em pauta muitos assuntos que
são esquecidos ou tratados com indiferença. Ver um tema tão forte para o
público jovem aumenta a importância do contexto.
A escrita é
fluida, que nos envolve a personagens e situações. É a verdade nua e crua. Um
tapa na cara de uma sociedade cheia de restrições e estereótipos.
Um livro leve
e fácil de ser digerido, mas que nos deixa inúmeras reflexões. Se tornou um dos favoritos do ano! Li em e-book, então não tem foto para o blog.